Os discos encontrados de Mestre Bimba.
Quanta história por trás destas faixas, destes 05 discos de 78 RPM Mestre Bimba e seus Tocadores! Quem seriam eles? Presença masculina dessa vez, sem as doces e afinadas vozes das Tijubinas, que sáo uma marca registrada do samba e da Capoeira Regional de Mestre Bimba. Quantas dúvidas?! Seriam estes, os discos gravados por "Moreno", um antigo discipulo ou seriam outras gravações? As datas que aparecem nos selos, sáo de 07 de dezembro de 1953, diferente da que Dr. Decâneo deixou escrito em um de seus livros, que seria em 1946, e que "Moreno" os teria levado para o Paraná. Ele também escreveu que eram 02 discos de toques de pandeiro. Pandeiros! Pois uma das faixas deste material deixa aquela pulga atrás da orelha... que pandeiros bem tocados e dinâmicos, tão protagonistas quanto o berimbau. Quem estava comandando estes instrumentos? Que ótimo seria se tivéssemos todos os nomes destas pessoas geniais, destes artistas - capoeiristas E tem mais..duas entrevistas! Conduzidas por quem produziu estas gravações ou apenas um interlocutor? O entrevistador mostra uma proximidade, uma familiaridade chamando o mestre apenas pelo nome de Capoeira: - Bimba. As faixas são de mais ou menos 03 minutos, o limite do disco, pois se percebe quando o mestre recebe a orientação de parar a execução, pois excederia o tempo disponível. E as cantorias?! Ritmo empolgante, consistente, pesado..cantorias em toques variados: São Bento Grande, São Bento Pequeno, Cavalaria, Santa Maria Idalina, Banguela; mostrando que a Capoeira Regional Baiana de Mestre Bimba estava em constante construção e invenção, inquieta como a criatividade e a genialidade do seu mestre. Quadras e corridos..menos na lúna, nessa o berimbau é a majestade; imponente, rico, contagiante e hipnótico..mágico e sem explicação...pois se explicar não é mais magia! Ainda temos outra voz na cantoria da Regional - um fato raro cantando no Hino, um fato rarissimo! A falta de registros deixa a bola quicando para os mais antigos e próximos reconhecerem esta pessoa. Quem participa deste material? Brás - o Amansa brabo - leal companheiro de Capoeira Regional, assim como foi Atenilo e tantos outros? Crispim, o filho mais velho e discípulo de fé, estaria junto? Alunos mais antigos ou da época das gravações ? Onde foram feitas? Os chiados e estalos denunciam que os discos são antigos e gastos pelo uso e pelo tempo. Ainda bem que deu tempo de fazer uso novamente! Entraram na ponta da agulha das 78 voltas e assim foram registrados digitalizados se mantiveram e vivos na história desta arte-|uta, na história desse valente povo. Ouvir e sentir a energia da Capoeira de Mestre Bimba e seu grupo, consagrada nas suas verdades pulsantes na sua africanidade latente, de dentro do seu corajoso coração, da sua sabedoria e imaginação. Muito feliz em divulgar este material! Independente dos sobrenomes, a Capoeira ganha muito, enriquece, aprende, se fortalece...se une! Uma honra para mim e um privilégio para todos.
Cristiano Mattos da Cunha (Cabeleira) / julho de 2020.
Cristiano Cabeleira
Pelotas, Brazil
Capoeirista desde 1988, também pesquisa e coleciona sobre o tema. Possui um interessante acervo de LPs, livros, jornais, CDs, revistas, etc.
